Comentando o diário prático 1

Imaginário


Engraçado... desde os antiquíssimos tempos em que eu tentava fazer histórias de super-herói na Editora do Tony Fernandes, eu abraçava de coração as convenções de mundos de fantasia, assumidamente ficcionais e descompromissados da realidade... e aos pouquinhos, à medida em que vinham as tramas, os plots eram basicamente DERIVATIVOS DESCARADOS homenageando TODO O MEU REPERTÓRIO DE LEITOR E FÃ de quadrinhos, misturando e fazendo “piada” de entendendor que ninguém ia sacar, mas TERIA OBRIGATORIAMENTE DE SER LEGÍVEL.

Era pegar uma traminha passada num planetinha emulando o mundo medieval de Príncipe Valente, e SUPRIMIR DE TODA E QUALQUER MANEIRA O USO DE LEGENDAS DE NARRADOR, toda a ação tinha que ser “cinematográfica”, como a Graphic Novel da Piada Mortal (Moore/Bolland) ou do Ronin (F.Miller). Ou pegar uma trama homenageando as histórias da espada Selvagem de Conan, socar uma HISTÓRIA DE ROMANCE que nasceu de uma piada - o Príncipe Encantado ia tentar salvar a Princesa que acaba se apaixonando pelo vilão - e vira um drama daqueles filhodaputa desgraçado que nem as histórias mais tristes do Lobo Solitária, e eu fazendo questão de montar TODA A ESTRUTURA NARRATIVA EM CIMA DO MONSTRO DO PÂNTANO DO MOORE (ou o Miracleman, o encadeamento das páginas tava delicioso).

Repertório maldito por ser delineador de convenções absurdas a serem seguidas sem se saber porquê. Brincadeiras de iniciado que NINGUÉM VAI SACAR E MUITO MENOS CURTIR. E o bobo aqui fantasiando, rascunhando traminhas em papéis que foram perdidos ao longo do tempo, guardados com carinho em algum canto de minha memória, mas insuficientemente desanimadores do ponto de vista da motivação de trazer ao leitor mais repetições de coisas imaginadas há vinte anos atrás, superadas por autores nascidos NAQUELES BENDITOS ANOS.

Tornei-me superado... PELOS ESTRANGEIROS, e, entretando, por mais fracos e mal construídos em motivação que fossem minhas tramas calcadas apenas em histórias guardadas apenas na memória de um velho, não consigo ver autores nacionais trazendo este tipo de construção narrativa para a luz do dia... à exceção do Laerte quando dá para fazer séries longas.

O BK foi o cara que conseguiu exatamente o EFEITO QUE EU SEMPRE DESEJEI para as minhas histórias no quesito mobilizar emoções, especialmente no último trabalho dele, o Mil Nomes... Só que o negócio dele é NARRATIVA EM TEXTO LITERÁRIO. As histórias em versão quadrinho ESTÃO MIL ANOS AQUÉM DO QUE ELE CONSEGUE no texto, e por favor, NÃO CULPEM A DESENHISTA!!!! a Falha é DO ROTEIRISTA!!!! Sempre!

Ironicamente, a cada vez que reviro mentalmente, acabo PINCELANDO CADA VEZ MAIS METÁFORAS DE SITUAÇÕES CAPTADAS DA REALIDADE e incorporando à trama.

Minha pretensão atual é tomar como premissa o MUNDO IMAGINÁRIO, totalmente inventado, e SOCAR METÁFORAS e SITUAÇÕES que remetem DIRETAMENTE A COISAS QUE SÓ PODERIAM ACONTECER NO BRASIL. O caminho oposto ao realismo, mas que filhos de uma puta como Gene Roddenberry e Alan Moore EMPREGAM COM DESTREZA para poder falar de temas e assuntos SEM SEREM BARRADOS POR CENSURAS (era tudo ficção descompromissada... não era?)

Eu sempre me remeto à lenda de que o francês criador da Barbarella teve de jogar a puta da personagem lá no século XL (quarenta) depois de Cristo para poder falar dos temas da revolução sexual em plena época em que ocorria. Eu quero tirar sarro da cara de burocratas encastelados em feudos dizendo o que é bom ou ruim para o povo, sem aludir diretamente à pessoas reais.

Essa É a magia da boa obra de ficção: não se prende à época e às referências temporais em que foi feita, TRANSCENDE, TRANSFORMA, SE RECRIA NA SUA PRÓPRIA REALIDADE INTRÍNSECA, e TOCA AS PESSOAS, fala diretamente a elas, ressoa na mente, distrai, entretém. Mesmo que sejam esquecidas quinze minutos depois.

Comentários

Postagens mais visitadas