Transformando situações da vida em quadrinhos (1)

Pergunta lançada numa comunidade de quadrinhistas do orkut.
Estranhamente, depois da minha postagem, ninguém comentou nada, mas como a sugestão está valendo até para eu mesmo, postei aqui no blog para angariar comentários...

Preciso de alguém que saiba escrever uma HQ

Gente,Quero fazer uma revista em quadrinhos da minha história com meu noivo, já escrevi toda a histórioa(eu narrando), mas não sei fazer textos para revista em quadrinhos.... Preciso transformar esse texto narrado em texto para histórias em quadrinhos.Alguém sabe fazer isso?
Citar Fernando Aoki o Slang - 28 de ago

Autobiografias são engraçadas... e você optou por fazê-la em História em Quadrinhos, muito bem.

Parece uma coisa de finalidade bem pessoal e particular, curtição e partilha de uma situação comum.

Fato muito provável (me mandem para aquele lugar caso eu esteja errado): os eventos que levaram vocês dois a se reunirem MUITO PROVAVELMENTE são mais interessantes do ponto de vista AFETIVO de vocês dois, SÃO PARTE IMPORTANTE DA SUA PRÓPRIA HISTÓRIA, do que seria uma situação inusitada, daquelas divertidas de acompanhar na novela ou nos quadrinhos, o que provavelmente está dificultando a transformação daqueles eventos em uma situação quadrinhizada.

Recomendação a título de treino: peguem uma filmagem caseira, uma cena de vídeo de casamento de conhecido de vocês, ou mesmo um vídeo de situação cômica (ou videocassetada) do youtube. Assistam. Escolham os trechos mais interessantes, os diálogos mais chamativos. Transformem as cenas congeladas em quadros desenhados, na sequência escolhida, não precisa estar perfeitos os desenhos, é treino de quadrinhização, rascunho mesmo. O importante é transformar aquele monte de cena adaptada de um vídeo numa historinha curta com começo, meio e fim. E percebam durante o fazer da coisa (era para ser surpresa, mas prefiro avisar antes) que, se sua história não tiver um FIM com cara de FIM, ou seja, a sequência de cenas não conseguir “caminhar” na direção da cena final, do desfecho daquela situação, então é o caso de voltar atrás e TROCAR os quadrinhos que NÃO ESTÃO FUNCIONANDO para contar a história.

Percebam que o fato de vocês NÃO ESTAREM ENVOLVIDOS emocionalmente com a historinha que querem contar nesses exercícios te deixam totalmente livres para refazer a quadrinhização tantas e quantas vezes quiserem, e jogar fora as cenas que não funcionam sem dó nem piedade. E o treino, como todos sabem, levam à perfeição. O desapego ao objeto com que vocês estão mexendo torna a tarefa como se fosse aquelas lições de escola chatas da qual você vai, faz e se vê livre, ou aquela tarefa do seu trabalho do dia-a-dia, você vai, faz, resolve a tarefa, passa para a próxima, sem drama. É um trabalho! Como outro qualquer.

Botou emoção na parada, aí você TRAVA!!!! Vocês querem mesmo fazer sua lembrança particular com quadrinhos? Bem, então vocês em algum momento terão de sair do estágio de perguntar por aí “como é que eu faço? me ensina aí!” para pôr efetivamente mão na massa. No caso, quatro mãos. Dois olhos, quatro ouvidos, duas bocas, dois cérebros, dois pontos de vista trocando idéias entre si. Muito melhor do que muita gente quadrinhista começa, fechadinho numa conchinha, lendo gibi após gibi E SÓ GIBI, e começa a quadrinhizar para si mesmo do mesmo jeito que nós começamos a escrever quando nos ensinam: COPIANDO O EXEMPLO “DA LOUSA”.

A outra maneira, como devem ter percebido, e que eu NESTE CASO NÃO RECOMENDO, é buscar ler biografias em quadrinhos para tentar MODELAR a história pessoal de vocês dois naquela estrutura JÁ PRONTA de quadrinhização, mas, sem entender o processo de como passar de uma redação escrita para um sistema sequenciado de cenas representando a evolução de uma situação combinando ações de personagens em meio a trocas de diálogos, legendas explicativas e exposição de pensamentos, fica igualzinho aquele pessoal que copia um ideograma japonês ou chinês, ou aquele enfeite decorado com textos em escrita judaica ou árabe: é até bonito de olhar, mas se perguntar o que é aquilo, fica sem sentido.

E adaptar vivência sua a uma sequência pré-pronta, como se pudesse seguir o molde, DIFICILMENTE FUNCIONA. Mas, sei lá, a história é de vocês. E antecipo: tem muita autobiografia XAROPE que não dá a menor vontade de ler. E sinceridade, se algum dia vocês desejarem partilhar essa história sua com mais pessoas de seu convívio familiar, seria legal se ela não fosse RUIM de ler.

Antes de mais nada, uma história em quadrinhos serve para CONTAR uma história, só difere a mídia, o jeito de se contar. O que se pretende contar é o que dá substância para as histórias.

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