Premissas e elucubrações (2)
Catzo, porque me incomodei tanto com o gibi LULUZINHA TEEN ?
Sou eu que tou me achando muito sem ter PORCARIA NENHUMA ESCRITA, só um monte de especulações (felizmente no caminho certo!) sem botar direito as mãos à obra para a realização, ou esse povo é que gastou uma energia mental danada, trabalhou em equipe, fez reuniões de brainstorming e de briefing, pesquisou sob o chicote do prazo e do contrato com a Ediouro, e mesmo assim fez uma mixaria de um mangazinho tipo shojo beeem genérico, carisma ZERO, e precisando a toda hora evocar OS PERSONAGENS QUE SUPOSTAMENTE ELES SERIAM NA INFÂNCIA (o gibi original) como se buscasse uma aprovação “divina”, como se apelassem a uma autoridade superior ACIMA DA DOS LEITORES! Será que esse povo que quadrinhizou a Luluzinha Teen não tem talento suficiente pra fazer alguma coisa legível e divertida mesmo pra alguém como a minha filha de oito anos? (hmm, na verdade ainda não fiz o teste...)
Eu já tive minha cota de fazer coisas nas coxas por precisar cumprir metas, quando trampei lá no estúdio do Firmino, e mesmo aqui no meu serviço... e mesmo antes, pergunte praquela revista-vídeo de 16 páginas Stiletto que fiz com JRP para a distribuidora Show-vídeo... esqueci esse o nome mesmo? Mas sei lá, parece que o pecado não foi na execução da idéia (apesar de concordar com as críticas que outros fizeram acerca dos desenhos), parece que o rombo foi mesmo na concepção original do troço... que catzo de pesquisa foi essa que não considerou o impacto da deformação dos personagens originais na imagem que eles queriam, já que queriam aproveitar a suposta fama destes? E porque não considerar os aspectos mais presentes no imaginário popular relativo à personagem Luluzinha, que é justamente a expressão “Clube do Bolinha” (“menina não entra”)? E que catzo de pesquisador de marketing de mercado ligado à mídia quadrinhos que não percebe o puta potencial de explorar essa faceta de isolacionismo masculino, de grupelho, e misoginia infantil que tem que ser derrubada na adolescência em prol de um objetivo maior, melhor e mais nobre: COMER AS MENINAS? Porra, o conflito é a base da história... e quer conflito melhor que este da problemática meninosXmeninasX sair da infância e ir pra adolescência?
Imagina o estrago em termos de potencial de cativação do público-leitor se isto fosse levado adiante... hmmm... é, provavelmente a Ediouro iria vetar!!!! Eles querem mais aqueles conflitinhos artificiais mesmo, beeeem politicamente correto, beeeem família... mas, porra, HANNA MONTANA é calcada num conflito bem evidente: ninguém dá a menor pelota pra Miley, a adolescente estudante normal... mas todo mundo paga pau pra Hanna Montana. É a exploração do mito da identidade secreta pra gente que não tá nem aí pra gibi de super-herói. HIGH SCHOOL MUSICAL explora a questão da obrigação das pessoas serem aquilo que OS OUTROS esperam que elas sejam, o enquadramento em seu papel social, sem contestação, encaixar-se no estereótipo, seja do jogador de basquete, seja o da musa do teatro, seja o do nerd, é o que se espera em termos de aceitação social... e, no entanto, TODA A TRAMA É CALCADA NA POSSIBILIDADE DE FAZER ALGO MAIS, EXPLORAR TODO O POTENCIAL DO SER HUMANO EM USUFRUIR DE MAIS DE UMA HABILIDADE, daí botar a porra do herói, capitão do time de basquete e grande esperança pra escola sair de uma tradição de derrotas, ir cantar no musical de primavera junto com a estudante novata nérdia do caralho!!! E darem aquela porra de show musical que tanto encanta as crianças que a Disney tão bem aprendeu a fazer em gerações (Mary Poppins tem lá seu charme...)
CUSTAVA MUITO os caras do estúdio da Luluzinha Teen trabalharem a partir de uma premissa de conflito sem recair em nada muito controverso nem complicado nem politicamente incorreto? Porra, o filme do Scooby Doo partiu NÃO DOS PERSONAGENS ORIGINAIS EM SI, mas foi buscar na PERCEPÇÃO QUE AS PESSOAS FÃS DO DESENHO TÊM DOS PERSONAGENS... e a partir dessa premissa, fez um filme que achei bastante divertido e cheio de conflitos... todos censura livre!!!
Minha filha, quando tinha cinco pra seis anos e essa bagaça do filme original ESTOUROU, queria ser a Gabriella, a personagenzinha nérdia, porque as duas eram parecidas (a atriz Vanessa Hudgens é sino-americana), e era a mocinha, a heróina da história, afrontada pela Loira Vilã, a personagem da Sharpay.
Só que a minha menina era (e ainda é) tão perua, mas tão vaidosa, que eu vivia aporrinhando-a, dizendo que ela tinha mais a ver com a peruagem da Sharpay, a rainha do teatro e do espetáculo musical, toda exuberante, perua, do que com a heroína modesta, quietinha em seu cantinho, que só crescia enquanto espetáculo quando abria a boca sobre um palco (eta forçada de barra do diretor e coreógrafo do filme, mas funciona de certo modo, largaram mesmo os melhores números musicais pra mocinha e pro boiolinha do mocinho, senão o filme não funcionava!).
Minha filha ficava fula da vida comigo, achava que tinha que ser a mocinha “apagadinha”, certinha, e morena com cara de mesticinha. E quanto a querer ser igual à vilã, ser egoísta e querer prejudicar os outros não tinha nada a ver...
Só que o carisma da atriz que fez este papel foi tal, que mesmo bancando a “vilã”, o personagem acabou conquistando seus fãs, e teve o papel de “vilã” sendo reduzida ao de “aprontona”. Lembra daquela personagem, a Alexandra do desenho animado Josie e as Gatinhas? Era isso, alguém com inveja, ciúme, e capaz de sabotar, mas no fundo alguém da turma, alguém do lado dos heróis.
Atualmente, aos oito anos, minha filha reconhece mesmo que a-do-ra o estilo perua da personagem, e que adoraria poder dirigir o conversível cor-de-rosa com as iniciais de nome e tudo o mais.
Acho que é isso que queremos dizer com o personagem escapando do controle dos criadores e traçando seu próprio rumo pela própria força e pela capacidade de provocar esta reação de empatia com seu público. HSM não foi de maneira alguma feito pra mim, não pertenço de forma alguma ao público-alvo, e apesar da marca Disney Channel de manipulado e fabricado até o pescoço, eu sempre que posso defendo a mensagem passada na história original, e graças a Deus, repetida novamente no filme para cinema: SAIA DA PORRA DO SEU QUADRADO, NÃO VIRE UM ESTEREÓTIPO DE SUA IMAGEM PESSOAL QUE VINHA CULTIVANDO ATÉ ENTÃO, TRANSCENDA, E EXERCITE SUAS HABILIDADES EXTRAS A PONTO ATÉ DE PODER NÃO APENAS USUFRUIR COMO TAMBÉM EXERCÊ-LAS PROFISSIONALMENTE.
High School Musical, essa história pueril, soube passar com precisão essa mensagem, de forma que até uma criança de seis anos conseguiu apreender de alguma maneira... e é este o espírito que para mim deve nortear qualquer produto de ficção dirigido às crianças: QUER ALGUMA COISA? VÁ EM FRENTE! LUTE COM TODAS AS SUAS FORÇAS! E NÃO SE APOQUENTE COM O QUE OS OUTROS PENSAM OU DEIXAM DE PENSAR SOBRE SUA ESCOLHA DE VIDA!!!!
Fechando o raciocínio sobre a Luluzinha Teen, do ponto de vista comercial, temos mais é que aplaudir a empreitada, torcer para dar certo e vender, e abrir o mercado de quadrinhos que está bastante restrito no que se refere à produção nacional.
O grande problema é que o projeto peca em vários quesitos, e o mais grave é que a capacidade de entretenimento desta revista está bastante comprometido, especialmente pelo expediente de inserção de diversas cenas apresentando o personagem na infância, e mostrando que agora está assim na adolescência... essa insistência em atrelar-se à uma imagem do passado para justificar a “continuidade” da vida do personagem nas novas aventuras, da forma como foi feita, soou como um autêntico ESTELIONATO, especialmente para quem lembra das histórias originais, inocentes, descompromissadas, infantis.
Alterações de interesses e até mesmo de personalidades são aceitáveis dentro da narrativa da passagem da infância do personagem para a vida adolescente, e quiçá adulta.
A falha que os malditos velhos antigos leitores de gibi (como eu) persistem em alardear a todo canto é essa incapacidade dos autores de trabalharem a referência original dos personagens e darem um desenvolvimento condizente, como foi feito com a turma da Mônica em sua adolescência-mangá. Isso nos soou bastante ofensivo, desrespeitoso com a memória dos personagens, em suma, UMA EMPREITADA RESTRITAMENTE COMERCIAL MOVIMENTADA ÚNICA E EXCLUSIVAMENTE PELA INVEJA (“a grama do vizinho é mais verde”) do sucesso editorial do sr. Maurício.
Obviamente os leitores contemporâneos poderão apreciar em muitos as aventuras de Lulu, Bola, Ana, Alvinho (qual será o nome dele sem o diminutivo? “Alvo”, que nem o Dumbledore? Droga, era Alvin no original), Careca e Pitty. Honestamente, não sei o que considerar do ponto de vista do público-alvo. Mas parei alguns minutos especulando sobre possibilidades de desdobramento com base no existente, e fiquei surpreso de terem saído idéias boas, com possibilidades de agradar, e sem incomodar aos saudosistas.
1.- “Clube do Bolinha” é uma expressão popularíssima que transcendeu o gibi da Luluzinha. Muita gente conhece e usa a expressão (especialmente pelo seu lema: “Menina Não Entra”), mesmo sem ter sequer a idéia de onde veio esse termo. O Clube do Bolinha, no contexto da série, podia simbolizar questão da criança querendo montar seu grupo de amigos com uma identidade em comum, que, na adolescência, das duas, uma: ou viraria uma lembrança de saudade de um passado em que pertencer a um grupo era mais fácil e inocente, ou o clube ainda existiria na cabeça de seus ex-membros e seria “evocado” toda vez que eles precisassem conversar sobre algum assunto “de menino”
2.- Luluzinha era exímia contadora de histórias, sempre narrando pro Alvinho contos da bruxa Meméia (ou Tetéia?) e contextualizando a moral da história a alguma coisa que o Alvinho estivesse aprontando ou questionando. Seria natural de esperar que ela, adolescente, gostasse de criar histórias também, mas agora de Wicca, ou similares, e povoasse seu blog com isso, fazendo algum sucesso entre os tweens (e talvez, ironicamente, ser ignorada pelo mesmo Alvinho que a escutava no passado)
3. - Bolinha era o cara inconformado com as coisas fora de ordem de seu cotidiano, e assumia a identidade do Aranha, o detetive, para solucionar os mistérios. Se alguém seria o motor de uma investigação de algo que está estranho e errado, esse personagem seria automaticamente o Bolinha. O duro é que a Luluzinha mais atrapalhava que ajudava. Normalmente a situação estranha, um objeto quebrado ou sumido era o seu Jorge, pai da lulu, que tinha quebrado ou removido para trocar por um novo (e o coitado, a exemplo do mordomo, era sempre o primeiro a ser o culpado, sob protestos da filha!)
4. - Glorinha sempre foi o personagem ligado a coisas de moda, chique, e esnobando gente menos “antenada” como a Luluzinha. Seria um contraste interessante entre a Lulu e a Glória na adolescência, como as personagens de seriados juvenis da Disney.
5. - Mino, o alienígena, podia ser atualmente uma espécie de fantasia do passado do Bolinha. E ele, agora, adolescente, poderia fazer questão de manter uma imagem de “adolescente normal”, mas sempre tendo um pezinho nérdio, interessado por coisas de alienígenas, alta tecnologia, filmes, internet, etc. Seria interessante se ele fosse dividido entre essa paixão nérdica contrapondo-se à necessidade de manter uma imagem de descolado e “cara normal”.
6. - Aninha e Carequinha são irmãos e sempre se bicaram. Seria interessante explorar esses conflitos potencializados pela adolescência.
7. - Bolinha sempre pagava pau pra Glorinha, e esta por sua vez só tinha olhos pro Plínio. Daria conflitos bastante chamativos manter esse triângulo amoroso na adolescências dos três personagens, com a entrada da melhor amiga do Bola, Lulu, na equação.
8. - Voltando ao Clube do Bolinha: houve uma mudança radical de pressuposto entre a Criança e o Adolescente. Na infância, a menina era vista como um estorvo, um elemento totalmente oposto às brincadeiras “de menino” que os moleques adoravam, e daí pra exigir distância das meninas (mesmo daquela para quem o dono do clube ficava pagando pau) era algo natural. Na adolescência, mudou toda a regra do jogo, os meninos querem mais é chamar a atenção das meninas, querem chegar junto. Nada mais “empata-foda” que um clubinho de meninos extremamente chauvinista. E por isso mesmo, ele NUNCA DEVERIA TER SIDO DEIXADO DE LADO NA ATUALIZAÇÃO da Luluzinha Teen. Ele é o elo simbólico entre o passado dos personagens e o seu presente, representação da infância tanto dos meninos integrantes do grupo (ou os excluídos, como o Plínio e a turma da Zona Norte), como das meninas, cujo papel nele era “Menina Não Entra”!
Eu tenho a impressão que qualquer um dos temas que propus iria diminuir em 90% as queixas sobre a descaracterização da Luluzinha, sem exigir grandes mudanças, nem no caracter design, na posição da Ediouro sobre o assunto, censura livre, etc. Com as palavras, os autores!
Bem,eu já li uns episódios essa nova versão de luluzinha e achei realmente bem mudado o roteiro como vc bem destaca em alguns casos dos personagens,temas que tbm poderiam ser melhor abordados trazendo até um drama adolescente com temas bem autais.
ResponderExcluirMas levando em consideração a situação atual dos quadrinhos no Brasil pode-se dizer que seria um bom começo pra renovação de títulos antigos e
estimulo pra criação de novos tbm. abraços
Há temas atuais, meu caro! Montou-se um puta hype em cima do produto! O que me deixa DOENTE é essa apelação à imagem do passado que NÃO SE ENCAIXA com o personagem teen, APELATIVO PRA CARALHO, PURA FORÇAÇÃO DE BARRA QUE ESTÃO TENTANDO FAZER O INFELIZ DO LEITOR ENGOLIR SEM ÁGUA! E o que me deixa mais fodido ainda é o maldito “NÃO PRECISAVA SER ASSIM!”
ResponderExcluirEm termos de ABERTURA DE MERCADO concordo que o sucesso desta publicação ajuda, certamente a melhorar o quadro geral. E quem sabe a dar espaço para produtos concorrentes, e espero eu, MELHOR SUCEDIDOS enquanto Entretenimento quadrinhístico, como um gibi Disney, como um mangá shojo, shonen, shoqualquer coisa. Algo que eu possa pôr na mão de uma pré-adolescente para ler sem que me sinta incomodado por mensagens tendenciosas ou por simplesmente ser um gibi mal-feito.