O que esse robô-latão tem de tão bacana para o Aoki insistir em sua volta


“Então, após ter tomado castelo, reinado e a vida do consorte da princesa, o conquistador almeja tomar o coração da dama, e lança-lhe o desafio dentro de um biscoito da sorte: ‘Esta é a melhor dançarina da minha côrte. Por tudo que vi até então, acredito. Dizem que a princesa é mais. Por tudo que sei até então, duvido!’

E a princesa dançou. Dançou com a fúria da vingança, dançou com a ânsia de justiça e de reparação, dançou com a destreza do orgulho ferido, dançou com a vaidade
do desafio, dançou com a emoção de estar seduzindo (só não trouxera para a dança seu outrora amado, por quem derramava até há pouco lágrimas de imensa saudade).

E o conquistador, na alegria dividida entre a energia do espetáculo e o funcionar de seu estratagema, mal percebe quando a ponta do véu nele se enrosca e, no esvoaçar da dançarina, ele se desequilibra e cai.
Cai, diante de toda sua côrte, de joelhos, aos pés da princesa, ela que deveria estar caindo nas malhas da sedução...”




Essa é a cena-chave de um episódio do Alma de Aço que bolei em 1992, título-provisório “Liraane”. EU NUNCA ANTES HAVIA BOLADO CENA DE SEDUÇÃO COM MEUS PERSONAGENS NESTE NÍVEL DE ELABORAÇÃO.

E eu comparava... Cassaro publicando UFO Team, Zé Mauro Trevisan dando seus primeiros passos em direção à escrita profissional, Zé Roberto com seus contos crescendo como escritor e Sérgio Peixoto conseguindo que Álvaro Omine desenhasse 2 historinhas pro Gilberto Firmino em sua revista Astronauta... Klebs Jr. com seu curso de roteiro publicando episódios para as revistas na época... e apesar de parecerem bem executados visualmente, careciam por demais de capacidade de envolver o leitor...


Quem envolvia MUITO BEM o leitor, para mim e naquela época, era o Ataíde Braz. Eu adorava de paixão o Drácula desenhado pela mulher dele, Neide Harue, e o jeito bem “Mangá dramático da escola Go Nagai de emoções à flor da pele do personagem”, intercalado com pequenas situações bem humoradas, muito bem escrito... eu me deixei levar!!!

E, com “Liraane”, atingi um nível QUE SEMPRE DESEJEI: fazer uma história que fosse envolvente, que ME fizesse ENQUANTO leitor me interessar pelo drama dos personagens, ficasse envolvido, torcesse... e me surpreendesse, mesmo que a trama se encaminhasse para seu final lógico, lógica só percebida após o trajeto da leitura...

E se consegui uma vez, mesmo na forma de roteirinhos rascunhados (cadê a safada da minha pasta verde? Liraane ficou junto com os originais do Alma - aqueeeela pro Tony Fernandes - e reescrever tudo a partir do zero vai dar muito trabalho e vai gerar mais procrastinação ainda!...)... se consegui uma vez, POR QUE NÃO conseguir mais e mais vezes?

E se eu posso emocionar a mim mesmo, leitor meio cri-cri e chato pra caralho, leitor que acha todas as histórias desenhadas pelo Hector Alísios (Juba e Lula, Samsara) lindas e maravilhosas, mas de uma ASSEPSIA de emoções, uma incapacidade de gerar simpatia pelos personagens ou pela trama TÃO GRITANTE E FRUSTRANTE que aplaudi de pé EMIR RIBEIRO ter conseguido ACERTAR A MÃO NESTE QUESITO com Fátima a Mutante e Os dois sexos Adrian (pena que é tudo pornô!). Outro que aplaudi nesses tempos (1ª metade de 1990) foi o Gian Danton com três obras maravilhosas desenhadas pelo competente Benê Nascimento: “Íncubo”, “A Fantástica Família Titã” e a melhor delas, “Mermaid”! Pena que ele(s) falhou(ram) fudidamente na mais ambiciosa delas, “Refrão de Bolero”. Depois do fim da parceria, tentei acompanhar o Gian, mas o que li, não me comoveu... era como se ele tivesse perdido a mão...

Se eu pude comover a mim, poderia comover a outros também!

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