Tem algumas premissas básicas no latão aqui que tentei pôr antes aqui no blog mas não conseguia fazer uma síntese melhor organizada, então largo deste jeito mesmo:
1 - Não dá pra negar a influência dos heróis espaciais da Marvel (que eu lia nos oitentões) na concepção de meu personagem, especialmente o Surfista Prateado do John Buscema e o Senhor das Estrelas do Byrne (dá-lhe, oitentões!), e principalmente o ROM, o cavaleiro do espaço. Na época, achei que seria interessante colocar uma inteligência artifical DO BEM no lugar de um cavaleiro de armadura como o Homem de Ferro e o próprio Rom... alguém que busca a humanidade mesmo não tendo origem humana.
Nunca contei o Visão como cem por cento artificial por causa daquele lance das ondas cerebrais do falecido Simon William, e muito menos o Tocha Humana original de 1939, por ter aparência humana demais, e fui influenciado pelos livros do Asimov e o velho seriado do Jornada nas Estrelas: nos livros, as máquinas eram um reflexo da humanidade com seus defeitos e suas virtudes, no seriado, eram criações que acabavam se voltando contra seus criadores.
E nos quadrinhos adultos, na época da Animal, tinha o RanXeroX, um bruto violento e bárbaro dentro de uma estrutura de máquina, mas igualzinho os punks... e eu quis um herói máquina justamente para fugir disto, o quadrinho comercial de herói renegando o quadrinho autoral, justamente para homenagear o primeiro pela oposição!
O fato do visual dele remeter ao vilão Besouro, inimigo do Homem de Ferro, foi realmente inconsciente... estava tentando com meus parcos recursos mentais à época recriar a impressão que tive com aquela cena antológica do Exterminador do Futuro, onde ele emerge sem o disfarce humano após a explosão de um caminhão tanque. E naquela cópia escura dos cinemas dos oitentões, aquele robô ameaçador me parecia um robô preto, daí eu pintar de preto o Alma de Aço, ele tinha que começar uma ameaça para então aparecer como herói.
2 - Como puderam notar, desde aqueles primórdios, adoro ironias e contrastes, e felizmente agora encontro-me dotado de discernimento e ferramental técnico mais apropriado para fazê-los em meu personagem de maneira bacana e decente! O senso de ironia acentua e dá força às ideias principais dos roteiros, realça a mensagem, e diverte o leitor mais exigente e perspicaz.
3 - Eu sempre tive fixação por aquelas antigas revistas preto-e-branco A Espada Selvagem de Conan, por que, mesmo dentro de um personagem que tem uma cronologia narrativa, com evolução de situações, reencontro de personagens do passado e de histórias anteriores, NÃO TINHA A BENDITA DA ARMADILHA DA NOVELA SERIADA em que se tornaram os gibis de super-heróis de agora: eram NORMALMENTE histórias com começo, meio e fim NA PRÓPRIA REVISTA. E defini que, dentro da medida do possível, TODAS AS HISTÓRIAS DO ALMA DE AÇO deveriam ter começo-meio-e-fim no próprio episódio! E evitaria ao máximo possível sagas de mais de cinco episódios para ser resolvida (é, eu mesmo não consegui evitar e elaborei uma história em cinco partes com uma aventura muito legal do latão).
Mais uma vez é a coisa da ironia: eu quero ir contra uma estrutura comercialmente bem-sucedida de gibi de linha, de super-herói, mas que eu acho UMA AFRONTA AO LEITOR ENQUANTO CONSUMIDOR DE ENTRETENIMENTO e ao direito dele comprar POR GOSTAR, NÃO POR SER OBRIGADO A ACOMPANHAR O DESENROLAR DA NOVELA E FICAR SE MARTIRIZANDO QUERENDO SABER O FINAL!!!
4 - Atualmente, na revisão do personagem, estou constatando simbologias presentes nos conceitos e nas histórias muito bacanas, que não tinham ocorrido na época mas que estão claras como cristal:
O Alma de Aço é o ápice da tecnologia humana, tanto em armamento altamente sofisticado quanto pelo fato de ser uma inteligência artifical sagaz e bastante equipada para a sobrevivência e para a ação... só que é uma porra de um bárbaro, só sabe oferecer soluções militares do tipo mais trogodita, do tipo extermínio total do desafeto, mesmo o cérebro artificial dele dizendo que nesta ou naquela situação o negócio mesmo é sentar e negociar...
Porra, o cara é UM BÁRBARO, UM TROGLODITA disfarçado de equipamento de última geração... vai ver que é por isso que tem visual de cavaleiro de armadura medieval, parece um transformer fuscão preto ou um besouro halterofilista (eu só desenhei ele parrudo pra parecer um super-herói... pelo visto, vou manter esse visual bem desengonçado e antiquado justamente para realçar o aspecto de solução ignorante para um problema)
Prefiro mantê-lo, em essência, um herói, aquele que procura fazer o que é o certo e o justo... só que agora estou carregando a mão nas falhas de caráter e no revanchismo deste meu personagem... definitivamente os programadores da personalidade dele tinham sérios problemas emocionais...
Um herói que mete os pés pelas mãos, que acaba ou entrando em dilemas morais sobre o certo e o errado, ou pior, em que ambos os lados de uma situação TEM RAZÃO e estão certos (alguém lembrou de Palestina e Israel?). E quando ele tem que se opor a outros que ESTES SIM SÃO HERÓIS LUTANDO PELO QUE É CERTO e tiveram apenas a infelicidade de topar no caminho dele do lado oposto?
Cara, eu adoro essa dicotomia... esse lance de amoralidade mesmo em busca da moral que tanto tinha nas histórias do Conan, o Bárbaro... e que eu vi aprimorada e atualizada através de um quadrinhista japonês absurdamente talentoso e elaborador, Yukito Kishiro, autor de Gunnm - Hyper Future Vision / Last Order (igualmente conhecido como Battle Angel Alita) e de Acqua World.
É a ironia a serviço de aumentar o interesse do leitor no meu trabalho quadrinhístico e trabalhando em prol de aumentar a diversão de quem ler!
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