
Aqui neste caso, é o segredo do Latão, nunca antes revelado ao público!!!
(adoro historinha de bastidores! uma vez fofoqueiro...)
Heróis que receberam uma segunda chance na vida.

Bem, e qual seria o problema?
Em meados dos anos 1990 fui apresentado a uma história em quadrinhos japonesa maravilhosa, chamada GUNNM: trad. “sonho da arma” (na época, era a edição americana, onde a série tornou-se BATTLE ANGEL ALITA), cujo primeiro episódio foi a nossa heroína, GARY (ou Gally ou Alita, escolha o nome que melhor lhe convier), é resgatada de um lixão cibernético por um médico de ciborgues e é reconstruída por ele.

E nossa heroína pega e trata de se adaptar àquela nova vida, como filha adotiva e querida daquele homem... num mundo futurista e violento, e quando a coisa apertou no primeiro episódio, o subconsciente dela se manifestou como uma guerreira filha-da-puta capaz de ganhar grandes lutas!

O sonho da arma!!! Gun Dream, que por incrível que pareça, GUNNM não é “ajaponesação” dessa expressão americana, é japonês legítimo, ideograma e tudo!
Se você não tem memória, não tem passado, não tem obrigações, não tem amarras. Eventualmente pode bater a curiosidade sobre que tipo de vida você levava antes, e até mesmo que tipo de pessoa você era antes de esquecer.

Aí, refaz a vida, e tenta levar da melhor maneira possível. Tenta ser feliz. Que nem o Ulisses (Odisseus), na companhia da princesa Nausicaa, antes de recuperar a memória e ter que voltar pra dar um tratos na sua querida Penépole e voltar a dar broncas em seu querido filhote pentelho Telêmaco...
O pobre do Alma de Aço nunca jamais em hipótese alguma teve condições de refazer a vida, era uma premissa básica da série, e justificada por uma "1ª DIRETRIZ" (santo robocop)!

Não preciso dizer que quando li aquela “Battle Angel Alita” me veio uma sensação de “porra o que é que eu vou fazer agora? fudeu, taqui a trama do Alma de Aço, se eu soltar agora vai todo mundo cair de pau dizendo que chupei descaradamente deste japa aqui!!!”
Entretanto... não apenas virei fã de carteirinha da série deste autor, Yukito Kishiro, como também redigirei posts inteiros acerca das visões de distopias futuristas deste... e como ele está influenciando terrivelmente minhas regurgitações mentais sobre o Alma de Aço.
E uma coisa muito importante que as inúmeras leituras de Gunnm me fizeram concluir: apesar da semelhança pela questão da amnésia, temos diferenças brutais: Gary (Gally/Alita) se assemelha mais ao texto de Pinóquio, com um pai apresentando um ser inocente ao mundo, e ensinando os caminhos do certo e errado. Só à medida em que a trama avança e a sensação absurda de familiaridade e de autoconhecimento no campo de batalha vai fazendo com que ela queira (?) se lembrar de seu passado. Já o Alma de Aço é uma criatura incompleta, obcecada por um passado que nem sequer sabe como é ou o que é ou por que é... ele foi PROGRAMADO para agir dessa maneira, para bancar o defensor de sabe-se-lá qual planeta, e essa programação que a pifada na memória não conseguiu cancelar vive martirizando o bichinho, impelindo-o a ir atrás de um lar que nem sabe se existe mais, e impedindo-o de sossegar o facho e deixar fincar raízes em algum canto e tocar a vida pra frente (tá bem parecido com o nosso amigo obcessivo, Odisseus, santa Odisséia, batman.)

E quanto ao fator originalidade, tão precioso, tão caro e tão necessário a qualquer um que acompanhe o que vem sendo produzido aqui no Brasil, nos Estados Unidos, na Europa, no Japão, ah, esta necessidade de ser o único, o princípio da exclusividade... tenho que trabalhar isso como se deve, não? Afinal, Gary e o sr. Kishiro me mostraram o JEITO CERTO de fazer uma boa história de ação e aventura futurística... mas... NÃO DO MEU JEITO, NÃO MINHA VERSÃO DOS FATOS!!!
Eu sigo as lições do quadrinhista Laerte e do escritor inglês Neil Gaiman: ABRACE A SEMELHANÇA!!!
Eles nunca recomendaram isso explicitamente.
- Laerte, quando contaram para ele que seu personagem Overman é igualzinho ao Space Ghost, começou a fazer o Space Ghost aparecer nas tirinhas!
- Neil Gaiman quase quis desistir de fazer o arco de histórias “Um Jogo de Você” (na série do Sandman) quando tropeçou num livro do escritor Terry Prachett que falava basicamente da mesma situação, o mesmo enredo!!!
Gaiman encontrou com esse escritor, explicou-lhe o problema, e foi aconselhado pelo Prachett a mostrar A SUA VISÃO, A VISÃO DE NEIL GAIMAN sobre este tema.
Não apenas “Um Jogo de Você” é considerado uma das melhores histórias do Sandman como também alguns anos depois Gaiman estava escrevendo livros em parceria com Prachett.
ERRATA - correção Abr/09 - Segundo meu grande amigo José Mauro Trevisan, a coincidência de “Um Jogo de Você” foi com o livro “Bones of the Moon” do escritor Jonathan Carroll, com quem Gaiman se encontrou e foi aconselhado a ir em frente com sua própria versão dos fatos.



Imagens de Gunnm: ©Yukito Kishiro - divulgação
Imagens dos Piratas de Tietê e Overman: ©Laerte Coutinho - divulgação
Imagens dos livros: ©Neil Gaiman e Terry Prachett - divulgação